Reprodução/Facebook/Yvonne Bezerra de Mello |
Estão prestes a entrar em vigor duas novas medidas socioeducativas no Brasil, não previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente: a agressão a pauladas e o acorrentamento do adolescente nu pelo pescoço em poste localizado em praça pública (veja aqui).
Estas medidas, ao contrário das demais, não são requeridas pelo Ministério Público e nem aplicadas pelo Poder Judiciário, mas sim pelos milicianos ou pelos “justiceiros”, pessoas que acham que podem fazer justiça com as próprias mãos, de acordo com a ética ou a conduta de cada um, sem ampla defesa, sem contraditório e sem o devido processo legal. E aí o caos se instala.
E o pior é que na nossa insana sociedade, nas redes sociais e em outros meios, lemos atordoados as manifestações mais impressionantes: “Muito bom! Bandido bom é bandido morto” ou “É menor mas já é bandido”. O lugar comum e a mediocridade imperam, sem se fazer uma análise mais aprofundada daquilo que simplesmente está ao nosso redor.
Mas isso já é esperado em um país violento, pobre, hipócrita, em que se gasta mais em campos de futebol para a Copa do Mundo do que em educação (confira aqui). Enfim, é o país do faz de conta, do jeitinho e da mentira.
Não há dúvidas de que pegar uns adolescentes e submetê-los a algumas pauladas e ao pau-de-arara, tão usado na época da ditadura militar, é mais fácil e barato do que implementar de forma efetiva os direitos fundamentais, como saúde, educação e assistência social.
Alguma diferença? |
E mais: os milicianos não deveriam se preocupar em torturar os adolescentes, porque muitos deles já estão sendo torturados em vários centros de internação fétidos e insalubres espalhados pelo Brasil (mais informações aqui)
O adolescente que comete ato infracional deve ser responsabilizado de acordo com a legislação vigente (Estatuto da Criança e do Adolescente e Lei do SINASE), mas também deve ser ressocializado, ter uma chance de viver a vida fora do triste ciclo da pobreza e da violência que se instala desde cedo na vida de milhares de crianças brasileiras.
Se isto não ocorre, deixamos de ser país.
Se isto não ocorre e ainda violentamos, torturamos e humilhamos estes adolescentes, então deixamos de ser gente.
Aurélio Giacomelli da Silva
Defesa da Infância e da Juventude
Renato Russo"Mas nos deram espelhosE vimos um mundo doente."
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