Hoje
o Estatuto da Criança e do Adolescente completa 22 anos. E aí? Bem, é óbvio que houve várias
conquistas nessas décadas na proteção das crianças e adolescentes no Brasil.
Mas ainda há um longo caminho a ser percorrido.
A
visão da maioria dos nossos governantes e políticos em relação à Lei n. 8069/1990
(ECA) é ridícula e lamentável. As políticas públicas nesta área em muitos municípios
e estados brasileiros inexistem ou são muito deficientes. Além disso, principalmente
em anos eleitorais, as crianças são usadas de todas as formas para captação de
votos. É o carinho na cabeça, é o beijo no rosto é o pegar no colo. E quando
muitos de nossos digníssimos políticos assumem seus cargos, simplesmente
ignoram a infância e a juventude, que deveria ser tratada com prioridade e
protegida integralmente contra qualquer forma de violação aos seus direitos,
conforme determina a legislação aniversariante. Mas, ao contrário, nada se
investe, ou se investe o mínimo, do mínimo, do mínimo daquilo que deveria ser
efetivamente destinado em prol de nossas crianças. E quanto se gasta com
publicidade? E quando se gasta com shows milionários? E quanto se gasta com
corrupção?
E
é nesse cenário desolador que o Ministério Público, por meio de suas
Promotorias de Justiça da Infância e Juventude, deve atuar, fiscalizando e
tomando as medidas necessárias para que efetivamente nossos governantes cumpram
suas obrigações legais, criando e estruturando políticas públicas fortes nas áreas
da educação (vagas em creches e pré-escolas, educação especial inclusiva,
qualidade no ensino, valorização do professor, etc.), saúde (investimento no
Sistema Único de Saúde, implantação dos CAPSi, etc), assistência social
(estruturação do Sistema Único de Assistência Social – CRAS, CREAS, Serviço de
Acolhimento Institucional, etc.), habitação (prioridade no atendimento de famílias
com crianças em situação de vulnerabilidade), esporte, cultura e lazer. E mais:
deve o Promotor de Justiça fomentar o trabalho em rede, eficiente, integrado e
entrosado, evitando a política dos compartimentos, sem qualquer senso coletivo
e de responsabilidade solidária.
Além
do Ministério Público, a sociedade civil é essencial nesta difícil missão. Os
conselhos de direitos (da criança e do adolescente, da saúde, da educação, da
assistência social, etc), instâncias democráticas, paritárias e deliberativas, têm
um papel essencial na fiscalização e na formulação das políticas públicas em
prol das crianças e dos adolescentes. Esses conselhos não podem, de forma
alguma, ser meros despachantes ou carimbadores das vontades unilaterais e
muitas vezes inidôneas da maioria dos governantes. Ao contrário, o protagonismo
deve prevalecer, tendo-se ciência, inclusive, de que as resoluções dos
conselhos de direitos têm caráter vinculativo, ou seja, devem ser cumpridas
obrigatoriamente pelo Poder Público. Como se não bastasse a participação da
sociedade nesses conselhos, o voto de cada cidadão também é um instrumento
democrático e imprescindível para que os interesses das crianças e adolescentes
sejam preservados. Então pergunte aos candidatos esse ano: Quais suas propostas
para as crianças e adolescentes? Serão tratados com prioridade? O senhor
conhece o SUAS? O senhor sabe o que faz uma psicóloga do PAEFI? E uma
assistente social do CRAS? Quantas equipes multidisciplinares o senhor pretende
implantar na área social da Prefeitura? Que medidas o senhor irá adotar neste
grande desafio que é a educação especial inclusiva? E os professores, vão continuar
com esses salários? Enfim, muitas outras perguntas teriam que ser feitas, para
que coloquemos nos cargos políticos representantes que realmente se preocuparão com a infância e com a juventude.
Enfim,
sabe-se que o Estatuto da Criança e do Adolescente é uma lei moderna e foi
copiada ou serviu de modelo em diversos outros países. Porém, o Barão de
Montesquieu já dizia:
“Quando vou a um país, não examino se há boas leis, mas se as que lá existem são executadas, pois boas leis há por toda a parte.”
Assim,
desejo parabéns a todos os que lutam dia após dia, de forma incessante, para
que o Estatuto da Criança e do Adolescente realmente seja cumprido, apesar de
tudo...
Aurélio
Giacomelli da Silva
Promotor
de Justiça
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